Compreendemos que diálogo é essencial em qualquer tipo de relacionamento.
Mas, por muitas vezes, a habilidade de comunicação nos é tolhida logo na infância.
Enquanto meninas são acolhidas e encorajadas a falar de seus sentimentos, vivências, pensamentos, dores, paixões, ideias e até mesmo sobre seus corpos e desenvolvimento; Não são raras as violências dirigidas aos meninos quando os mesmos tentam abordar esses mesmos assuntos.
Quantas vezes ouvi que “homem não chora”, fui questionado se era “um homem ou um rato”, ouvi que minhas emoções não importavam, que meus problemas eram pequenos perto dos problemas de um adulto, que minhas ideias eram bobas, que minhas dores e paixões iam simplesmente passar (como mágica) e simplesmente não tive conversas sobre meu corpo ou sexualidade.
Não é de se estranhar, então, que homens desenvolvam muito cedo, e com uma prevalência muito maior, uma condição chamada: Alexitimia - que é quando uma pessoa tem dificuldade de identificar e descrever as suas próprias emoções.
E, como todos percebem, isso impacta diretamente nos relacionamentos e na saúde mental, levando a relações utilitárias e frequentemente sem afeto, com tendências para dois extremos: dependência e solidão.
Educação e cultura são partes fundamentais desse processo.
Se somos moldados a não falar de nós mesmos e não refletir sobre quem somos, o que pensamos, o que sentimos e tão pouco questionar o que nos é imposto, nos resta repetir os padrões estereotipados que nos são passados como “corretos” ou “normais”.
Mas isso também não é arbitrário: ao seguirmos perpetuando esses comportamentos para as próximas gerações - como dito no meu conteúdo sobre sentimentos considerados “ruins” - seguimos ignorando as causas, aumentando os traumas e favorecendo pessoas e situações que se beneficiam desse silenciamento.
Não aceitamos mais agressões físicas em crianças, mas e as verbais e psicológicas?
Por vezes, o lugar que seria de acolhimento acaba sendo onde o medo, a insegurança, a inaptidão, a inadequação, o silenciamento, as dores e traumas são implementados e reforçados.
Vejo adultos que não batem, mas tratam as crianças como se fossem algo inferior, ou dirigem suas vidas para que se tornem aquilo que os pais querem. Seja para seguir quem ou o que são, ou aquilo que eles queriam ser, mas não conseguiram ou puderam.
É claro que crianças ainda tem muito o que aprender, o cérebro não está completamente formado e desenvolvido, elas não possuem maturidade suficiente para compreender alguns assuntos, mas
é importante conversar com elas como seres humanos do mesmo nível, adaptando linguagem e conceitos para que elas possam entender dentro das suas capacidades cognitivas, sem menosprezar ou diminuir sua importância.
Levando em consideração a vontade da criança, suas descobertas, ajudando a compreender todas as possibilidades de vida, não ocupando todo seu tempo livre e não a impedindo de ser criança.
Pessoas criadas a partir do silenciamento tendem a se afastar e fechar.
Com sorte encontrarão outro lugar onde recebam afeto, compreensão, escuta e poderão, enfim, se abrir e conversar para, a partir daí, começar uma jornada de autoconhecimento, entendimento do mundo, ressignificar coisas, criar seu próprio pensamento crítico, desenvolver conexões e socialização.
Porém, nem sempre terão essa sorte e, de certo, viverão em uma eterna tristeza e incerteza sem ao menos saber o motivo… Talvez levadas a acreditar que a vida é isso mesmo: pagar conta e falar amenidades. Que o que importa é trazer dinheiro pra casa só.
Externalizar sentimentos faz parte dos processos de autoanálise, autoaceitação e autocompaixão, necessários para lidar com as situações e desenvolver-se emocionalmente, por isso é tão importante permitir que as pessoas sintam e vivenciem seus sentimentos sem questioná-los, invalidá-los ou silenciá-los.
Parece básico, mas não custa lembrar: não diagnostique outra pessoa se você não é um profissional capacitado e qualificado para tal e (muita atenção para esse "e") responsável pelo acompanhamento desse indivíduo.
Espero, verdadeiramente, que minhas palavras aqui não sejam distorcidas, esvaziadas, generalizadas, tratadas com insensatez, tão pouco leviandade… Eu acredito e confio que leitura, compreensão, interpretação de texto e discernimento serão usados por quem for atingido por essa mensagem.
Lembrem-se que por trás dessa gélida tela também há uma pessoa.
Se esse conteúdo fez sentido pra você, ajude a levá-lo mais longe curtindo, salvando, comentando ou compartilhando.
É super comum lermos/ouvirmos por aí que homem não sabe conversar e sim, vocês tem razão. Homem não sabe conversar nem com outros homens e, por muitas vezes, nem consigo mesmo.
Estou fazendo uma série de posts com a ideia de abordar esse assunto trazendo um ponto de vista masculino com o intuito de abrir um diálogo público honesto, sem preconceitos, com escuta, clareza e atenção, onde possamos entender alguns dos motivos que levaram a isso, quais os problemas que isso trás, quais as possíveis soluções, porque é tão difícil mudar esse cenário e, quem sabe, provocar mudanças.
A ideia não é passar pano pra ninguém, tão pouco ignorar a sociedade machista, patriarcal e falocentrada em que vivemos e as mazelas causadas por isso, também não é fingir que não venho de um recorte social muito privilegiado sendo um homem branco hétero cis de classe média-alta, muito menos ignorar que existem sofrimentos muito maiores… Mas também não quero propor um campeonato de sofrimento e desgraças.
Nesse primeiro post tento entender uma das possíveis raízes da dificuldade de comunicação dos homens: a criação, educação e imposição social e cultural.
Talvez eu aprofunde ainda mais nesses aspectos no próximo post, depende do feedback de vocês.
O debate está aberto, sejam gentis.