E se eu te contar que ninguém precisa pensar nada; ou ainda que a maior parte das pessoas está ocupada com a própria vida; e que se te julgarem, isso diz mais a respeito da pessoa do que sobre você?
Eu sei que, em especial pra quem foi criado “pra não dar trabalho”, ou em um ambiente muito conservador (que vive de aparências pra sociedade), pode ser muito difícil simplesmente se colocar à frente e pensar que você deve fazer as coisas e tomar decisões colocando você em primeiro lugar e depois, se fizer sentido, pensando nas outras pessoas.
Isso não é egoísmo. Isso é autocuidado.
Conheço várias pessoas que passaram grande parte da vida infelizes por não seguirem a carreira que queriam, não trocaram de curso quando sentiram que deviam, não trocaram de profissão quando conheceram outra paixão, não assumiram sua sexualidade, não questionaram seu gênero, não experimentaram outros modelos de relacionamento, não interromperam uma “piadinha” preconceituosa de um grupo, não se afastaram de pessoas tóxicas (em especial aquelas com um laço muito próximo), não denunciaram um abuso ou agressão, e até coisas mais simples como não fizeram uma viagem, não tiveram hobbies, ou não foram em uma festa…
Tudo porque achavam que o julgamento dos outros seria implacável.
De que adianta viver uma vida infeliz, tentando fazer outras pessoas felizes?
Se algo é importante pra você e pode te fazer feliz, ou ao menos te levar a novos caminhos - lembrando que sempre dá pra voltar, se for o caso e você achar que não valeu a pena - porque a opinião metafórica de outras pessoas deveria impactar na sua decisão?
É verdade que sim, muitas vezes nós temos a Síndrome do Protagonista (ou do Personagem Principal), onde acreditamos que somos importantes demais na vida dos outros, e isso pode nos levar a acreditar que realmente as pessoas julgariam as nossas ações o tempo todo.
Nesse caso, como eu disse no meu texto “ninguém quer ver suas fotos de viagem”, às vezes temos que nos dar a nossa devida desimportância e nos aceitarmos como NPCs da vida real (eu explico no texto o que significa esse termo).
Porém, se realmente as pessoas julgarem as coisas que te fazem feliz, ou te fizeram experimentar coisas fora de uma “normalidade” ou “padrão” imposto pela sociedade, sistema ou cultura, talvez sejam elas que devam tratar isso em terapia, não você.
Se ame primeiro, se liberte, cuide de e olhe com carinho para si. Depois pense nos outros (se fizer sentido).
Talvez esse texto seja uma ode à Sócrates… Não o jogador, o filósofo.
Quando ele diz "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses", entendo que cada um de nós tem características únicas que nos diferenciam e também um potencial enorme, capaz de criar tudo - uma vez que todas as teorias, tecnologias, pensamentos e criações foram feitas por nós.
Claro que o ser humano não criou o universo, o nosso planeta e a natureza, mas as transformações que nos trouxeram ao mundo atual só foram possíveis a partir do momento que nós começamos a nos compreender e nos desenvolver.
Se para conhecermos tudo, primeiro precisamos conhecer a nós mesmos, todo nosso ser, nossa potencialidade, aquilo que somos, aquilo que nos define e aquilo que conseguimos realizar; Como podemos fazer isso se não nos permitirmos mergulhar em nós mesmos?
E se eles estiverem ocupados demais mergulhando dentro de si?
E se eles também estiverem se privando desse mergulho?
E se eles sequer se deram conta que podem mergulhar?
E se eles foram levados a acreditar que não podem mergulhar?
E se eles…
Eles são eles… Eles estão ocupados e preocupados em serem eles…
Mas e você? Está preocupado em ser você? Ou está ocupado demais pensando no que eles esperam de você?
Em seu último julgamento, Sócrates haveria proferido a seguinte frase ao se negar a não mais participar de debates públicos e influenciar os jovens gregos a pensar e questionar a sociedade e religião: "A vida irrefletida não vale a pena ser vivida".
Sendo assim, reflita sobre sua vida, sobre quem você é, sobre o que você quer, sobre tudo que compõe o seu ser: seu único universo particular, sua divindade individual.
Coloque-se à frente da sua vida, tome suas decisões, comemore ou arrependa-se, mas faça por você.
Os outros? Deixe eles serem os outros…
Eles também precisam se encontrar.