O medo de recomeçar.

No meu texto “bateu uma culpa de não ter feito nada nesse ano” (depois dá uma olhadinha lá no perfil e deixa seu like - se você curtir, é claro) eu interpreto que “o ano termina e nasce outra vez” demonstra apenas que o calendário mudou, mas nossa vida continua.

Ainda assim, é compreensível que essa época do ano traga muitas reflexões, sentimentos, questionamentos, pensamentos e - dentre as várias possíveis - uma sensação de recomeço.

Talvez por estarmos habituados à fazer nossas resoluções de ano novo (no perfil também tem uma lista que vale a pena conferir e considerar incluir na sua); talvez por ser um período onde muitos entendem que está na hora de estabelecer alguns limites (mais um jabá: “conversas difíceis, mas importantes e necessárias de se ter nessa ceia de natal” - também está no perfil); talvez por voltar à rotina e sentir que há um desbalanço entre esforço e recompensa; talvez por mera catarse do zeitgeist mesmo.

E todo recomeço dá medo (Eu fui, eu tava… Algumas vezes).

Por mais que você possa ter uma rede de apoio cuidadosa e próxima, na maior parte do tempo essas pessoas também estão vivendo suas vidas, lidando com suas questões e, por mais boa vontade que tenham e esforços que façam, invariavelmente estamos sozinhos na maior parte do tempo.

E enfrentar grandes desafios sozinho realmente assusta.

É comum que a dúvida sobre o futuro nos paralise no presente.

Em especial pra quem sofre com ansiedade*, essa sensação de incerteza gera uma percepção de falta de controle e, consequentemente, faz a nossa mente criar dezenas de cenários possíveis e impossíveis - alguns bem catastróficos, inclusive.

Há algumas ferramentas que podem ajudar nesse momento, como tentar compreender quais desses cenários são realmente possíveis; qual a pior coisa que realmente pode acontecer caso esses cenários se concretizem; com quem você pode contar nessas situações; e como você pode sair, reverter ou até mesmo se aproveitar dessas situações.

Mas, uma coisa que funciona melhor pra mim do que continuar vivendo em um futuro metafórico, é olhar para o passado; onde já tenho experiência e vivência para me apoiar e enfrentar o que está por vir.

Quantas vezes você disse “essa é a situação mais difícil que eu já vivi, não sei como e nem se vou sair dessa”, mas com o tempo as coisas foram se ajeitando, você foi dando conta e a vida seguiu?

É claro que nenhuma mudança real é fácil!
Estamos em uma zona de conforto onde já sabemos como é ser, viver e o que fazer.

É claro que haverão tropeços!
Muito raramente conseguimos fazer algo perfeito pela primeira vez; os erros são parte do aprendizado e do processo de mudança.

É claro que o resultado final pode ser diferente do que o imaginado/desejado!
Só dá pra saber se será pra melhor ou pra pior se fizermos a mudança e dermos tempo para que ela reflita verdadeiramente em nossa vida.

Nem todo mundo tem a possibilidade ou condições reais de fazer grandes recomeços e, talvez, a consciência desse privilégio nos faz acreditar que é muito mais provável que não tenhamos mais outra chance de recomeçar (ou de voltar atrás), do que acreditar que essa pode ser a mudança que você precisa fazer..

Por isso é sempre bom lembrar que é mais fácil completar várias pequenas mudanças dentro daquilo que é possível pra você, do que partir para uma enorme e inalcançável mudança.

*(Não se autodiagnostique, procure um profissional).

Recomeçar pode ser muito assustador, mas pode ser uma mudança muito menor, problemática ou traumática do que imagina-se pela força que essa palavra carrega.

E, quase sempre, o recomeço acaba sendo uma mudança bem vinda em nossas vidas.

Perdi a conta de quantas vezes recomecei… Mudei mais de uma vez de cidades, de escolas, de empregos (e também fiquei desempregado), de áreas de trabalho, de estado, de relacionamentos, de grupos de amigos, de estados civil. Também mudei de curso no meio da faculdade, de religião depois de uma viagem (ou talvez finalmente compreendi e me encontrei), de convicções políticas, empreendi, fiquei sem um real na conta (tive que fazer revezamento de conta que não ia pagar pra não ter os serviços cortados), freelei (ou fiz bico, pra quem é descolonizado), e mudei MUITAS vezes de opinião.

Contrário à ideia comum, não se recomeça do zero, mas aproveita-se a experiência adquirida das vivências anteriores. Tornando esse processo uma evolução da sua jornada por uma bifurcação, não uma volta completa ao início para pegar um novo caminho.

Se parar pra observar com calma, você também já teve alguns recomeços na sua vida, por mais que eventualmente nem os tenha percebido.

Você também sabe recomeçar, mesmo com medo 😉

Publicação original no Instagram (@tilima)

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