Vamos começar com o óbvio aqui, só pra evitar a fadiga: você tem total liberdade para escolher como usar seu tempo.
Fazer ou não fazer algo depende exclusivamente dos seus gostos e vontade. O ponto é que essa decisão não o torna mais virtuoso, intelectual ou especial do que qualquer outra pessoa.
Até porque, essa é uma comparação boba baseada em uma competição vazia (onde não há ganhadores).
Mas e a questão da alienação?
A maior alienação que vivemos é de acreditar que temos que usar todo nosso tempo livre (que deveria ser dedicado ao lazer e ócio) para fazer algo “produtivo” e que, portanto, essa uma única hora de entretenimento diário seria completamente dispensável.
Mas não agrega em nada!
Alguns diriam que uma breve caminhada pelo seu bairro também não agrega em nada, mas certamente sua saúde física e mental vão agradecer por você desligar um pouco dos afazeres, preocupações e cobranças.
Isso sem falar na oportunidade de conhecer novas pessoas e lugares nessas caminhadas.
Só tem intriga e fofoca!
Assim como grande parte dos livros, filmes, séries, novelas e, porque não, da nossa própria vida, né?
Talvez seu problema não seja com o conteúdo em si, mas com o fato dele ser popular.
A exploração e espetacularização me revolta!
As pessoas que estão ali são adultos, que assinaram um contrato sabendo o que estavam fazendo e com 23 edições de comparação para tomar essa decisão.
Muitos PJs e CLTs assinam contratos em condições piores e também seguem sendo explorados, mas a reforma trabalhista passou e o tanto de cartinha de renúncia que os sindicatos recebem é enorme.
Isso não dá futuro!
Não há absolutamente nada que você possa fazer que garanta um futuro com 100% de certeza. Não é um pouco de entretenimento que vai estragar o futuro de qualquer pessoa.
Até porque, a última coisa que nos prometeram que traria o futuro, nos levou aos pontos de não retorno do aquecimento global.
Prefiro estudar/trabalhar!
Ótimo, é o seu tempo mesmo, gaste como quiser. Isso segue não o tornando especial.
Só cuidado: a falta de ócio e lazer pode aumentar as chances de bournout, ou outras questões mentais e/ou emocionais. Caso apareçam sintomas, procure um profissional.
Mas então eu sou obrigado a gostar, acompanhar e discutir?
De forma alguma. Assim como você não é obrigado a gostar, acompanhar e discutir qualquer livro, filme, série, jogo, exposição cultural, etc.
A questão não é sobre o que você decide fazer com o seu tempo livre.
É sobre essa escolha não te tornar melhor do que ninguém e, por esse mesmo motivo, não faz sentido questionar as decisões alheias.
Chegamos naquela época do ano onde os maiores leitores de ”Pai rico, pai pobre”, “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, “A sutil arte de ligar o f0d4-s3” e demais esnobes culturais; bradarem aos quatro ventos sua intelectualidade e virtuosismo por não acompanhar um único programa de TV (dentre todos os outros milhões que existem, em especial na era do streaming).
O simples fato de ser um programa popular e de fácil acesso para todos, é o suficiente para que os maiores defensores da meritocracia apareçam defendendo que essa única hora de entretenimento diário será o suficiente pela completa ruína de todas as pessoas.
Não houve tal comoção quando o fenômeno de Game of Thrones veio à tona anos atrás.
Veja todas as imagens desse carrossel e perceba que todas as frases mais usadas para julgar quem assiste BBB, se encaixam a quem assiste Game of Thrones… Mas não foram usadas, né?
Talvez por ser uma produção de acesso mais difícil (elitizado); pelo viralatismo cultural; pela maior complexidade na escrita (o que é decisão estética, não virtude - vide reclamações sobre o final da série); ou por não ser mal recebido nas salas de reunião da Faria Lima.
Não me entendam mal, não estou passando pano pro BBB, nem dizendo que você deve assistir, ou que se não assistir você é preconceituoso de fato.
O formato reality show em si tem seus problemas? Claro!
O programa em si tem seus problemas? Claro!
Existem outras opções de entretenimento? Claro, com características muito parecidas, inclusive, mas também outras bem diferentes.
Só não dá pra acreditar que há qualquer virtude, ou que se é superior pelo simples fato de não acompanhá-lo.
É bobo, é mesquinho e talvez esconda sim alguns preconceitos (mas aí é uma questão sua e do profissional que te acompanha).