Como muitos da minha geração, fui influenciado a moldar meu ideal de eu através da identificação com a figura do bad boy, anti-herói e brucutu que inundavam as produções culturais e os discursos dos adultos.
Repetia o comportamento aprendido, não por meio de vi.olência física, mas era intransigente, revoltado, sarcástico, duro e, porque não, um grande baba.ca que, inclusive, reproduzia discursos de ó.dio.
Eu tinha um vizinho, o Jogui, que sempre foi uma pessoa muito legal e externava o meu exato oposto para o mundo: ele era visto como uma pessoa bondosa, amigável, confiável, respeitosa e confortável de se estar com.
Eu já era sênior no escoteiro e o Jogui estava prestes a passar para o nosso ramo. O comentário geral em nossa tropa era de que ele seria muito valioso por conta de seu respeito e comportamento.
Foi então que eu entendi que o Johnny Bravo não era uma ode ao ideal masculino que a sociedade pregava e impunha, mas sim uma grande chacota à tudo isso e uma crítica à masculinidade tóxica.
Aos poucos fui entendendo que eu não precisava me esconder atrás de um personagem para ser aceito junto à aqueles que eu gostava e que também me queriam bem. Um fardo foi saindo das minhas costas.
Por décadas eu ainda segui com a armadura, principalmente em público ou com pessoas que eu ainda não tinha intimidade suficiente; em especial quando dedos eram apontados e risadas disparadas em minha direção.
Eu não costumo colocar nomes e apelidos nos meus textos, mas esse é um agradecimento que merece ser público e direcionado. Obrigado, Jogui, por me fazer uma pessoa melhor e ter iniciado meu processo de autoconhecimento.
Infelizmente a gente perde contato com a maioria dos nossos amigos quando crescemos no interior e depois nos mudamos para outra cidade.
Essa história aconteceu em uma cidade com pouco mais de 80 mil habitantes; em uma época que praticamente não haviam instituições de ensino superior no município e a internet dava seus primeiros passos em direção às redes sociais.
Os comunicadores instantâneos (ICQ, MSN e posteriormente Skype) foram perdendo sua relevância e até mesmo suporte ao longo do tempo. Dificultando ainda mais a comunicação com aqueles que fizeram parte de nossa adolescência e infância interiorana.
Apesar do pai do Jogui ainda ser vizinho da minha mãe, infelizmente nunca mais nos encontramos, portanto nunca tive a oportunidade de agradece-lo pessoalmente pela grande mudança que causou na minha vida.
Como disse no texto, não foi uma mudança imediata. Foi um trabalho longo começado por essa semente, que só foi germinar de fato anos depois e me trouxe para uma jornada que me tornou alguém completamente diferente de quem eu era 20,15, 10, 5 anos atrás.
Ainda hoje eu trabalho diariamente para tentar me tornar uma pessoa melhor e me livrar das coisas que foram impostas à mim ou que me levaram a acreditar… Quebrar padrões antigos, reconstruí-los à partir de um novo olhar e sob uma nova perspectiva… Enfim, encontrar o meu verdadeiro eu e permitir que ele de expresse em sua essência.
Talvez essa mensagem chegue até ele um dia, talvez não.
O importante é que ela tenha chegado até você. Espero que tenha feito sentido e tocado em algum lugar, em especial se você também está se forçando a ser quem não é, ou aceitando imposições que vão contra a sua essência.
Se você chegou até o final do texto, comente com esse emoji: ⚜️