E diria mais: Perdoar não é sobre o outro.
Quando dizemos ao outro que perdoamos quando - na verdade - aquilo ainda nos incomoda, estamos apenas massageando o ego de um terceiro, ou mesmo alegando uma propensa virtude.
Talvez pela forma como fomos criados, acreditamos que situações desconfortáveis devem ser rapidamente deixadas de lado ou, até mesmo, evitadas; e dizer que perdoa alguém antes de ressignificar sua dor, é uma forma de reforçar isso.
Porém, o perdão vazio não favorece ninguém.
Quem te causou dor não vai refletir sobre a dor causada e, portanto, não vai ter limites estabelecidos de forma clara; enquanto seguimos com nossa dor e estamos vulneráveis por não conseguir estabelecer esses limites.
Por isso, é comum associarmos o perdão com o esquecimento quando, em seu âmago, é sobre conviver com essa dor ou incômodo de forma racional e ressignificada.
Dificilmente vamos esquecer completamente algo que aconteceu, principalmente aquilo que nos dói; mas essas lembranças podem ser menos frequentes e penosas.
E é possível que, quando essa memória volte, ainda traga consigo alguma dor ou incômodo em um primeiro momento, mas também a lembrança que isso não define mais a sua vida ou a relação com o outro.
Você pode procurar um profissional para te ajudar a entender e lidar melhor com os acontecimentos da sua vida e seus sentimentos e, dessa forma, conseguir amenizar a dor ou incômodo e até ressignificá-los - conseguindo, assim, atingir o perdão para e por você.
Sem positividade tóxica aqui: ninguém é obrigado a conviver com quem nos causou dor, tão pouco a validar aquilo que faz mal.
Perdoar não é sobre isso, muito menos sobre desejar o bem a quem nos atingiu.
Você pode (e em muitos casos deve) se afastar e optar por não se expor mais a esse tipo de situação - inclusive, se for o caso, por meio de autoridades, instituições e forças legais.
É normal que, quando atingidos dessa forma, nos vemos tomados por estresse, angústia, raiva, repulsa, desconfiança e até mesmo um sentimento de alerta, defesa e vingança. Tudo isso está apenas dentro de nós e, optar por conviver com esses sentimentos - ou mesmo escondê-los - atinge unicamente à nós.
O perdão (que não precisa ser comunicado, inclusive), é para que possamos nos livrar desses sentimentos na intensidade colérica em que eles se apresentaram da primeira vez e, com o tempo, tornar toda essa dor cada vez mais branda, tendo aprendizados a partir dela.
Não se engane, o perdão jamais será imediato! Pode ser até mesmo que esse processo leve anos. Afinal de contas, alguns lugares doem muito mais profundamente em nós - em especial quando tocam em questões traumatizadas.
De certa forma, o perdão é muito parecido com o lidar com a frustação e decepção causadas pela quebra das expectativas - que falei nos textos “Relações não são aposta, nem investimento” e “Você precisa dessa validação?” (caso ainda não tenha visto - dá uma lida e deixa seu like se gostar).
Não é sobre esquecer - uma vez que, se esquecido, passaríamos pela mesma situação e sentiríamos novamente todas as dores. É sobre como você lida com o que ficou da sua dor.
Eu espero que você consiga lidar bem.
Dizem que os elefantes nunca esquecem. Então, se chegou até aqui, comente com o emoji 🐘