Essa é a 2ª parte de uma série de reflexões sobre nossa dificuldade de comunicação.
Cada conteúdo é único, mas a sequência enriquece o debate.
Lembrando que minha intenção não é ser o dono da razão, tão pouco passar pano ou condenar ninguém. São reflexões baseadas em minhas vivências, estudos, terapia e conversas.
Ciência não é feita com base em evidências anedóticas, mas o diálogo é importante para fomentar uma discussão necessária, já que muitos de nós temos barreiras para falar e procurar ajuda.
Somos socializados na vio.lência.
Não é incomum que ainda nos dias de hoje, infelizmente, os primeiros brinquedos que temos acesso e somos ensinados a brincar sejam ar.mas - tanto brancas, quanto de fogo.
A questão fica ainda mais complicada quando autoridades e até pais, responsáveis, ou cuidadores incentivam e normalizam que inocentes tenham atitudes ou comportamentos vio.lentos.
*algumas palavras são propositalmente alteradas pro algo.ritmo não derrubar o alcance por não entender a situação em que são usadas (tem que jogar o jogo).
Precisamos falar da influência cultural.
Desenhos, filmes, séries, livros, jogos, quadrinhos e outras produções culturais a que somos expostos desde pequenos demonstram que a solução dos conflitos se dá, majoritariamente, pelo uso da vio.lência.
Não, eu não defendo que pessoas que jogam videogame são vio.lentas por isso, mas a normalização da solução de conflitos por meio dela nos faz considerar essa como uma das primeiras formas de agir - senão a principal - em especial quando não há diálogo ou oportunidade de aprender sobre si e sobre coletividade.
Além disso, os arquétipos usados reforçam padrões de masculinidade “frios e calculistas” (risos), onde os personagens principais não demonstram ou verbalizam seus medos, angústias, dores, frustrações ou, por vezes, qualquer outro sentimento.
Não raramente os diálogos são totalmente utilitaristas, servindo apenas para que os personagens cumpram seus objetivos, mas raramente falam de si ou de seus relacionamentos.
Demonstrações de afeto, quando ocorrem, tendem a partir mais de personagens femininas; enquanto os afetos masculinos costumam ser direcionados apenas a outros homens, porém limitados a camaradagem.
Construímos nosso eu influenciados
por figuras de nosso convívio e modelos sociais a que somos apresentados em nosso desenvolvimento.
Se somos ensinados a respeitar através do temor, é nisso que vamos nos apoiar enquanto buscamos nosso lugar no mundo e, quando confrontados, é com esses valores que vamos responder.
Essa forma de ver e reagir ao mundo nos coloca em um constante estado de alerta e proteção (ainda que inconsciente), nos levando ao distanciamento e isolamento. Se tudo é uma ameaça, então não posso ser vulnerável, tão pouco confiar nos outros.
Produções culturais são fruto de seu meio, tempo e sociedade, além de seus criadores e financiadores ou patrocinadores.
Sendo assim, não raramente reproduzem e fortalecem o mac.hismo, patri.arcado, fa.locentrismo, se.xualização, hierarquização, competição, subjugação, posse, preconceitos, dogmas e romantização de comportamentos vio.lentos e abus.ivos.
Quebrar esse ciclo depende de ações particulares sim, mas, em especial, de ações públicas afirmativas que - em seu ápice - vão contra a manutenção desse mesmo sistema.
Paradoxal, né?
Se nossa criação (veja mais na parte 1) e influências reforçam comportamentos de medo, insegurança, silenciamento, invisibilização, individualismo, vio.lência, desconfiança e reprodução de preconceitos; ao mesmo tempo que não temos oportunidades de diálogo e aprender sobre nós e a coletividade; a tendência natural é de não nos abrirmos nem para os nossos iguais. Pois é:
Homem não fala nem com homem.
É só tentar puxar um assunto mais delicado de sua vivência, traumas, dores, ou sentimentos pra que você seja excluído da conversa ou, com sorte, ouça apenas “fo.da men”.
Externalizar sentimentos faz parte dos processos de autoanálise, autoaceitação e autocompaixão, necessários para lidar com as situações e desenvolver-se emocionalmente, por isso é tão importante permitir que as pessoas sintam e vivenciem seus sentimentos sem questioná-los, invalidá-los ou silenciá-los.
Parece básico, mas não custa lembrar: não diagnostique outra pessoa se você não é um profissional capacitado e qualificado para tal e (muita atenção para esse "e") responsável pelo acompanhamento desse indivíduo.
Espero, verdadeiramente, que minhas palavras aqui não sejam distorcidas, esvaziadas, generalizadas, tratadas com insensatez, tão pouco leviandade… Eu acredito e confio que leitura, compreensão, interpretação de texto e discernimento serão usados por quem for atingido por essa mensagem.
Lembrem-se que por trás dessa gélida tela também há uma pessoa.
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É super comum lermos/ouvirmos por aí que homem não sabe conversar e sim, vocês têm razão. Homem não sabe conversar nem com outros homens e, por muitas vezes, nem consigo mesmo.
Estou fazendo uma série de posts com a ideia de abordar esse assunto trazendo um ponto de vista masculino, com o intuito de abrir um diálogo público honesto, sem preconceitos, com escuta, clareza e atenção, onde possamos entender alguns dos motivos que levaram a isso, quais os problemas que isso trás, quais as possíveis soluções, porque é tão difícil mudar esse cenário e, quem sabe, provocar mudanças.
A ideia não é passar pano pra ninguém, tão pouco ignorar a sociedade machista, patriarcal e falocentrada em que vivemos e as mazelas causadas por isso, também não é fingir que não venho de um recorte social muito privilegiado sendo um homem branco, hétero, cis, de classe média-alta, muito menos ignorar que existem sofrimentos muito maiores… Mas também não quero propor um campeonato de sofrimento e desgraças.
Nesse segundo post tento entender mais uma das possíveis raízes da dificuldade de comunicação dos homens: a influência social e cultural que molda nossos pensamentos e comportamentos.
Talvez eu aprofunde ainda mais nesses aspectos no próximo post, depende do feedback de vocês.
O debate está aberto, sejam gentis.