Levei um fora, e agora?

(Ou como ser mais gentil consigo e com o outro)

Provavelmente, se você disser isso durante uma conversa em um grupo de homens, vai ouvir: “foda, man…”

Isso se tiver sorte de não tentarem reduzir seu sentimento com coisas sem sentido como “o que não falta é gente pra você ficar”, “tem coisa mais importante que isso”, "a pessoa nem é tudo isso", “você merece coisa melhor” e por aí vai.

Daria pra terminar esse texto de forma leviana dizendo apenas que esse tipo de coisa acontece e “a vida segue”

O que não seria muito melhor do que o grupo de homens falaria - apesar de também não ser mentira. Portanto, dá pra ser melhor que isso, né?

Para lidar bem com essa rejeição, é importante acolher sua dor. A rejeição é uma ferida narcísica, que nos lembra que não somos protagonistas senão da nossa própria história. Dessa forma, precisamos abrir mão do ideal de ser o objeto de desejo do outro (ou pior, de todos).

É imperativo, portanto, compreender que é impossível passar pela experiência da vida sem sofrer. A rejeição será apenas uma das diversas dores que vamos experienciar durante nossa existência e que, assim como todas as demais, não reduzem toda nossa existência e complexidade à apenas esse momento.

É hipócrita acreditar que seria possível simplesmente não criar expectativas. Mais importante do que lutar contra essa condição natural da vida, é tentar compreender como e porque criamos essa expectativa, além de pensar qual é o grau de rigidez que temos com a sua realização; uma vez que também é pouco provável que nossa expectativa seja integralmente realizada.

Essa quebra de expectativa pode ser perigosa ao projetar no outro nossas neuroses e inseguranças. É pouco provável que o outro tenha qualquer conhecimento sobre os traumas e questões que enfrentamos dentro de nós mesmos. Além disso, não podemos remover do outro sua própria singularidade.

Ou seja, é importante lembramos que pessoas não são coisas. Elas também têm suas próprias complexidades, falta de clareza, vontades, desejos, traumas, gostos e momentos únicos. Pode ser que ela verdadeiramente não conecte-se contigo, mas pode ser que ela não queira hoje, tem outras questões prioritárias no momento, precise de mais tempo para refletir, não saiba o que quer e, inclusive, pode mudar de ideia (mas não conte com isso - respeite a rejeição).

Outro ponto importante para se refletir é porque você quer tanto isso? Além de nossa própria fantasia, é normal que nós fantasiemos sobre a fantasia do outro - criando e elucubrando possibilidades quando, na verdade, não temos como saber se é a realidade. Por isso é importante traçar até onde vai o seu desejo real e até onde é o seu desejo de ser desejado que te move.

Lembre-se que rejeitar uma demanda não é o mesmo que rejeitar uma pessoa, portanto cuidado com o pill vitimismo. Quando levamos um fora temos que lidar não apenas com a rejeição, mas também voltamos ao estágio anterior de falta. Para lidar melhor com isso precisamos compreender que em qualquer tipo de relação (não apenas romântico/amorosas) é impossível termos simetria completa o tempo inteiro.

Não é porque uma coisa é normal que você não tem o direito de sentir, né?

Sim, alguns clichês são verdade: isso acontece; não é o fim do mundo; a pessoa tem o direito de não querer ficar com você; alguém vai te querer; etc e tal.

Nem por isso, essas frases prontas diminuem, ou invalidam a sua dor (apesar de, em sua gênese, tentarem).

E se, ao invés de reprimirmos nossos sentimentos e desejos, nós nos propuséssemos a entender o que eles são de fato, porque os estamos sentido, qual (ou mesmo se há) intersecção com o outro e respeitássemos as decisões e espaços.

Tenho pra mim que nossa dificuldade de conversar, aliada à psicofobia e imposições advindas da cultura e socialização, muitos acabam procurando conforto na masculinidade tóxica que, no fundo, serve apenas para conservar o pensamento machista, patriarcal e falocentrado, bem como a estrutura do sistema.

Não é de se assustar que esse tipo de frustração acabe sendo o estopim para que, cada vez mais, jovens se identifiquem como conservadores e acabem cooptados pelos movimentos representados por figuras calvas que desgraçaram a experiência de tomar um bitter tinto italiano.

É muito mais fácil transferir ou projetar no outro as frustrações, inseguranças, paranoias, neuroses, medos, angústias e traumas, do que aceitar que não é o “alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado” que uma criação que reforça Édipos e Narcisos faz crer - ainda mais quando há validação externa de grupos como o do já citado.

Não é sobre chafurdar na coitadolândia, tão pouco sobre abraçar a galera que não entendeu Matrix… Mas respeitar seus sentimentos e a decisão do outro, não tendo medo ou receio de falar sobre.

Por isso volto a reforçar aqui: minha DM tá sempre aberta, mas lembre-se que você pode (e talvez deva) procurar um profissional para ajudar a lidar com suas questões.

Publicação original no Instagram (@tilima)

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