(por favor, não insista)
Não é que eu não goste, muito pelo contrário, o toque da zabumba realmente sincroniza a batida do meu coração.
O tilintar do triângulo é algo que me faz sorrir espontaneamente, como um flerte à distância sendo correspondido.
Acho cativante quando completos desconhecidos se convidam para tomar a pista, e dançar com passos e rodopios que até parecem ensaiados.
Mas eu fico de quina, arrisco cantar algumas músicas, me balanço de leve de um lado pro outro e recuso convites.
Não é por mal, eu juro.
Até já tentei aprender, mas eu não consigo só deixar a música me levar e curtir o momento. Fico tentando racionalizar tudo e minha auto cobrança me pressiona.
Eu sei que todo mundo eventualmente vai errar, mas meu subconsciente fica esperando meu erro pra me convencer que jamais vou conseguir.
Por vezes prefiro não ir, ou me retiro da pista quando começa a tocar, num sentimento de auto preservação ativado pela ansiedade, advinda de cobrança e vergonha.
Eu queria saber dançar forró, mas talvez seja só uma daquelas coisas que não é pra mim mesmo, e não tem nada de errado em só aceitar isso.
O mesmo diálogo de sempre:
- Quer dançar?
- Eu agradeço, de verdade, mas eu não sei dançar.
- Besteira, não tem problema.
- Tem sim, eu vou pisar no seu pé, vou ficar sem graça e me culpar.
- Eu não ligo… vamos! Eu conduzo, você só me segue.
Como avisado anteriormente, eu não consigo…
Erro, piso no pé, a pessoa termina a dança antes da música - quando não me diz “é, realmente, você não sabe dançar”.
O fato é que nunca é bom pra nenhum dos envolvidos. A pessoa sente que perdeu seu tempo e eu fico macetando na minha cabeça porque fui me deixar levar.
Talvez a minha preocupação da pessoa achar que eu tô fazendo desfeita, mentindo, ou qualquer outra coisa pior é o que me coloca em situações que eu não precisava (ou não queria).
Claro que não precisa ser mal educado pra recusar, mas é tanta coisa que passa na cabeça de uma pessoa ansiosa, que pra ligar o mecanismo de luta ou fuga não precisa muito.
Uma das “defesas” que eu mais uso é me fechar no meu mundinho (ou dissociar, como está mais difundido). Simplesmente ignoro tudo e todos ao meu redor, fixo na banda e curto “em paz”.
É quase o mesmo que ver um show pela TV, com a diferença que eu gasto com transporte e bebida/comida superfaturados, uso banheiros sujos e dou ainda mais combustível pra ansiedade quando esbarro em pessoas.
Ainda assim, acho importante me expor e tentar lidar cada dia um pouco mais e melhor com essa ansiedade toda (claro, com anuência e acompanhamento da minha terapeuta).
Não acho que um dia vou verdadeiramente conseguir dançar forró, mas quem sabe eu não precise mais dissociar?