(uma breve reflexão sobre identidade)
Talvez a frase que eu mais tenho repetido pra mim, pra minha terapeuta, e até pra amigos é "preciso restabelecer minha rotina".
Quem vê os stories pode ter a impressão de que minha rotina é bem estabelecida… Meio que as mesmas coisas estão ali todos os dias, mais ou menos nos mesmos horários. Consegue até imaginar o que, quando e com quem vou fazer as coisas. Talvez até arrisque meus gostos e preferências.
É claro que tem realidade ali, já que faço as coisas que posto. Mas, como em qualquer trabalho, tem coisa que faço porque tem que fazer.
Se tudo parece meio que certo e programado, é muito mais mérito da experiência, do que reflexo da situação.
A verdade é que eu preciso me reconectar.
Hoje eu retomei um velho hábito: escrever páginas matinais.
Enquanto escrevia, notei que essa necessidade de reestabelecer uma rotina vem, na verdade, da necessidade de parar de fugir de mim mesmo.
A quantidade de coisas pra fazer tem me assustado e me paralisado. Não porque eu não dê conta, mas porque tornar as coisas maiores e mais complexas do que realmente são é sintoma dessa desconexão.
Sinto falta de meditar, pedalar aos domingos, flanar pela cidade, fazer passeios culturais, trabalhar de cafés, encontrar amigos fora de contexto de bares e festas, correr na rua e até passear no parque.
É claro que não dá pra encaixar tudo em um único dia… Talvez nem mesmo em uma semana ou mês, mas o fato é que eu tenho deixado essas coisas de lado.
Na urgência de realizar coisas pra fora, acabo ignorando o sinal de que preciso voltar pra dentro.
E, se eu não olhar pra dentro, tudo parece estar fora de contexto.
Percebo, portanto, que esse sentimento de que preciso reestabelecer uma rotina é muito menos sobre o que preciso fazer, e muito mais sobre o que eu preciso sentir ou, até mesmo, quem eu preciso (voltar a) ser.