Mas o que significa ser suficiente pra você?
Já notou que todas as vezes em que nos sentimos insuficientes, isso diz muito mais sobre a expectativa que acreditamos que os outros têm sobre nós, do que o que isso significa de verdade pra gente?
Afinal de contas, porque devemos ser absolutamente excelentes em tudo se isso não é possível nem se todo o tempo fosse livre?
O que te leva a acreditar que sua felicidade ou completude dependem de ser o melhor em alguma coisa, de ter "sucesso profissional", de acordar às 5 da manhã, de correr 15km na chuva, de levantar 60kg no supino, de ler 20 livros em um ano, de ter casa própria antes dos 30, de tocar um instrumento de forma virtuosa, de ser o melhor churrasqueiro na turma, de ficar com todo mundo numa balada, de escrever 2 livros por ano, de ser bem visto nas reuniões familiares, e por aí vai?
Nos fazem acreditar que estamos em uma eterna competição contra tudo, contra todos, e até contra nós mesmos. Quando, na verdade, a maior força do ser humano vem da colaboração.
Somos levados a acreditar numa dicotomia extremamente perversa, onde ou se é o melhor, ou simplesmente não é suficiente.
E nessa de tentar aperfeiçoar cada mínimo aspecto, deixamos de lado o prazer, a diversão e, até mesmo, as relações humanas.
Deixamos de pensar se o que fazemos é por nossa livre e espontânea vontade, ou se é apenas porque acreditamos que é o certo (ou às vezes até o mínimo) a se fazer.
Cuidar da saúde física e mental não precisa ser tomar suplementos e passar 3h na academia. (Mas se te fizer feliz tá tudo bem, ok?)
Nós não vivemos em um sistema justo e igualitário e esse é só mais um dos motivos que nos fazem acreditar que somos insuficientes.
A competição que travamos entre nossos egos só acentua ainda mais essas diferenças, e serve para seguir alimentando esse sistema que nos massacra diariamente.
Se estamos sempre insatisfeitos, se estamos sempre em busca de uma conquista maior, se nunca acreditamos que é o suficiente, então vamos seguir competindo, ao invés de parar e colaborar.
Quando foi a última vez que você fez algo só por diversão? Quando foi a última vez que você se sentiu feliz?
Pode ser que você nem consiga responder essas questões. Por isso é importante lembrar que suficiente é aquilo que basta, não é aquilo que extrapola.
Se cobrar demais só vai tornar esses dias cada vez mais raros e escassos, aumentar sua tristeza, frustração, raiva, ódio, cólera e acentuar episódios de pânico, ansiedade e depressão. O que pode fazer mal não apenas a você, mas também para aqueles com quem você se relaciona (independente da esfera de relacionamento).
Talvez seja uma boa ideia aceitar que às vezes nós não seremos suficientes mesmo, tirar a armadura e pedir ajuda.
Até porque, a gente não se basta sozinho.
Por muito tempo eu acreditei que precisava ser o ideal de macho durão, inacessível e inabalável.
Imagina a vergonha e a culpa de admitir que não sabia, não conhecia ou não conseguia fazer algo? Era impossível aceitar que havia algo em que eu simplesmente fosse medíocre.
Inclusive, essa é uma palavra que foi propositalmente corrompida com o tempo, pra que continuássemos em nossa corrida de ratos, atrás de um prêmio imaginário se conseguirmos estar sempre acima da média.
Medíocre não é um sinônimo de ruim, é estar na média.
A gente não consegue ser excepcional em tudo o tempo todo. Simplesmente não tem como.
Então porque não podemos normalizar o medíocre e até mesmo o ruim? Talvez porque a culpa seja um dos maiores motivadores do sistema que vivemos hoje. Se nos sentirmos culpados por sermos insuficientes, então vamos agir para resolver isso… Custe o que custar.
Ninguém recebe uma medalha pelo burnout, pela destruição de relações sociais, pelos traumas, pelo gasto excessivo com remédios, por não ter um hobbie ou momento de lazer.
Essas são apenas consequências do que precisamos fazer para não sentirmos a culpa de sermos insuficientes. Ou "casualidades", como chamam pra amenizar.
Eventualmente, mesmo nas coisas em que você possui a maior proficiência, você vai falhar. Porque a gente falha mesmo. Tem dia que a gente não tá bem, tem coisas externas que podem alterar algo, enfim… A única certeza é que não há motivo para se culpar disso.
Enquanto acharmos que temos que dar conta de tudo e que não podemos pedir ajuda ou demonstrar qualquer tipo de fraqueza, vamos continuar sofrendo com a culpa de sermos insuficientes.
Porque, na boa, o que não vão faltar são situações onde a gente se sente assim… E ser "machão" não vai te levar a lugar nenhum, tão pouco resolver a situação.