Infelizmente, todos nós conhecemos aquela pessoa que faz questão de depreciar as demais (inclusive aqueles com quem tem uma relação de amizade, afeto ou romântica), muitas vezes com “tom de brincadeira”, sempre que tiver uma oportunidade.
Além disso, utilizam-se da crítica disfarçada de elogio, ou “feedback construtivo” (que nunca foi solicitado), para que esse comportamento não fique tão explícito e suas falas sejam socialmente mais aceitas.
Podemos ponderar que pode ser inconsciente, mas isso não justifica, nem diminui o abuso.
Por não ser uma forma de manipulação explícita e, muitas vezes, vir de pessoas próximas o negging deixa a vítima confusa.
Nós não gostamos de sermos mal vistos, costumamos buscar aprovação e, frequentemente, temos as nossas próprias inseguranças e questões de estima. Por isso comportamentos como esse são tão difíceis de serem percebidos e combatidos.
Além disso, às vezes é difícil perceber se a pessoa tem um senso de humor mais ácido (que geralmente já é carregado de problemas por si só), se ela é apenas sem noção mesmo, se é uma pessoa carregada de preconceitos se realmente é um abusador, ou se é uma pessoa que precisa de ajuda e não sabe ou consegue pedir.
Por muitas gerações fomos ensinados a não demonstrar fraquezas e não lidar com nossas questões emocionais, além de sofrermos silenciamento e invisibilização, como escrevi em outros textos.
Assim, muitos esconderam sua baixa autoestima e insegurança atrás de cortinas de fumaça, muitas vezes baseadas em comportamentos violentos.
Por isso, não é incomum que pessoas que demonstrem ou dizem ter uma grande autoestima, na verdade criam essa ilusão para esconder seu próprio sentimento de inferioridade, baixa percepção de valor e afirmação pessoal, além de dependência emocional.
Por se considerar inferior, a pessoa deprecia as demais para que, enfim, possa se sentir superior.
Quem faz isso costuma analisar as pessoas e saber o ponto fraco delas, assim fica mais fácil atingir o objetivo e escalar as agressões até que a relação de dominância seja estabelecida.
Apesar de não ser restrito a relacionamentos românticos, tão pouco exclusivamente masculino ou heteronormativo, esse comportamento é amplamente difundido, defendido e incentivado pelos movimentos masculinistas, em especial como uma “técnica de sedução” (que nada mais são do que manipulações emocionais).
Basta fazer uma busca rápida na internet e logo identificamos textos que vangloriam essa prática e outros que fazem chacota quando esse comportamento é apontado como abusivo.
A raiz é a mesma: masculinidade frágil
É difícil conviver com pessoas assim, mas é crucial lembrar que a vítima não tem culpa e não é sua responsabilidade corrigir o comportamento do abusador.
É importante ponderar se vale a pena continuar a relação (seja em qual esfera for), estabelecer limites, formar e recorrer à sua rede de apoio, se afastar e procurar ajuda profissional (psicólogos, psiquiatras, ou mesmo assistentes sociais, advogados e a polícia se for o caso).
Violências verbais e emocionais afetam nosso psicológico e podem evoluir para agressões físicas.
Se você pratica negging de forma consciente: procure ajuda profissional para tratar sua insegurança, dependência emocional, baixa autoestima, e - quem sabe até - narcisismo e vampirismo emocional.
“Você é bonito, apesar de estar gordinho”.
“Esse relatório ficou muito bom! Você fez sozinho?”
“Parabéns por se formar, agora só falta atingir a estabilidade financeira igual seus irmãos”.
“Você não acha que ficaria ainda mais bonita se colocasse silicone?”
“Você é tão inteligente, porque não para de beber?”
“Você tá bem forte nas fotos, mas ao vivo não parece tanto, né?”
“Nossa, que mesa bonita… E ele arrumou sozinho!”
“Que cabelo lindo. Por que não pinta de ruivo? Acho tão mais bonito”.
“Não é pra criticar, mas essa roupa não caiu bem, né?”
“Nossa, nem parece você nas fotos. Achei que era mais alto”.
“Você é tão bonita, nem precisa de maquiagem”.
“Você ganhou massa magra e definição, agora só falta perder a barriga”.
“Parabéns, você não fez mais que a sua obrigação”.
Muitas vezes o Negging é associado a um comportamento exclusivamente masculino, heteronormativo, usado para conquista ou sedução - e em sua maioria é mesmo -, mas os exemplos acima demonstram que esse comportamento pode aparecer em qualquer esfera de relacionamentos da nossa vida.
Não é raro que logo após os comentários negativos, essa pessoa ressalte alguma característica pessoal própria, ou conte uma história que julgue favorável a si, a fim de estabelecer uma dominância, alimentar seu ego, ou esconder a sua própria fragilidade.
Explorando nossas vulnerabilidades e usando duplas mensagens, essas pessoas conseguem nos colocar pra baixo e nos fazer questionar porque não estamos felizes nem quando recebemos um "elogio", aumentando nossa sensação de insuficiência e estabelecendo uma dependência emocional.
Uma dica: se puder, afaste-se dessas pessoas o quanto antes. Priorize seu bem estar.